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  • Writer's pictureIsabel Arruda

Dona Saudade

Hoje a Dona saudade bateu à minha porta e eu a convidei para entrar. Juntas, tomamos um café fresquinho e comemos um bolo de banana enquanto conversávamos sobre a vida. Ela não quis me contar, mas acho que veio passar uma longa temporada aqui em casa conosco. Está mal intencionada, eu sinto, trouxe malas grandes e pesadas. Talvez tenha vindo para ficar de vez. Se é assim, não tenho como expulsá-la, pois, sei que ela vai dar um jeito de voltar, então o melhor a fazer é nos tornarmos amigas, sem sofrimento maior. Se convivermos em harmonia, todos saem ganhando e ninguém sai machucado.


Dona saudade se apresentou para Catarina e ficaram um longo tempo conversando. Cacá aprendeu o significado de sua essência ao chegarmos no Canadá. Ela expressa sua saudade de tudo e de todos a todo o tempo. Sem tristeza ou dor, e sim relembrando bons momentos e verbalizando a saudade da sua família e antigos amigos. Ela conta e revive momentos que aconteceram meses atrás com uma riqueza de detalhes impressionante. No final da conversa sempre diz que, um dia, irá visitar e encontrar com todos novamente. Coração aperta, disfarço uma possível lágrima de canto de olho e confirmo que vamos sim... um dia.


Voltando a nossa amiga saudade. Não quero me afeiçoar demais a ela, prefiro uma relação amigável, porém não muito intensa, que me impeça de criar novos vínculos por essas terras geladas, seja com a cidade ou com pessoas. O norte já é gelado, então quem melhor para aquecê-lo do que nós mesmo?! Calor humano sempre foi a minha principal fonte de calor.

Conviver com ela sob o mesmo teto nem sempre é tarefa fácil. Tem dias que ela pega pesado e me empurra contra a parede até quase me sufocar o peito, mé dá dois tapas na cara e me faz chorar. Outros dias nem sinto a sua presença e quase esqueço que ela está ali. Algumas vezes ela sussurra em meu ouvido dizendo que eu deveria voltar a minha velha vida. Não dou a mínima atenção e sigo fingindo que não ligo para a sua opinião. Alguns a valorizam demais e preferem retornar aos braços e abraços dos que amam, outros não dão muita atenção. Eu a valorizo na medida certa, e o suficiente para não esquecer minhas raízes e de onde vim.


A saudade pode estar nas pequenas coisas como o pão de queijo da padaria da esquina, como naquelas amigas que te entendem com o olhar, como em uma brincadeira de mangueira entre as primas ou como a familia reunida em um delicioso almoço de domingo regado a vinho. A saudade é gostosa e dolorida. E se ela existe é porque uma linda história foi contruída em algum lugar do passado e encontramos pessoas que nos deixaram marcas.

A saudade faz e sempre fará parte da vida de um imigrante e lidar com ela é prioridade. Portanto, sorria para ela e a convide para entrar. Te garanto que é a melhor coisa a se fazer, pois querendo você ou não, ela estará sempre por ali.


Um brinde à saudade!

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