Isabel Arruda
Privilégio respirar amor

Olho essas duas fotos e me dou conta.
O que tanto pode acontecer em um ano escolar?
Ela não é mais a mesma, assim como também não sou e você que está lendo também não é.
Perdeu aquele ar de menina pequena e disfarça atrás do sorriso dois espaços de dentes vazio.
Aprendeu a devorar livros e a escrever com uma letra mais bonita que a minha.
Conheceu Harry Portter e seus mistérios. Quer estudar em uma escola de magia, me diz.
Chorou pelo arranhado no joelho ao escalar a árvore e tremeu de medo antes de subir no palco daquele musical.
Mal sabe ela que da platéia também me tremia toda, mas não de medo e sim de orgulho em vê-la ali, aquela menina que por 2.anos e meio se recusava a falar.
Enquanto eu aprendia uma nova profissão, ela aprendeu a andar de bicicleta sem rodinha.
Enquanto ela aprendia a multiplicar, eu aprendia a ser mãe de dois.
Enquanto ela vivia a liberdade de uma escola sem muros, eu vivia a liberdade sem os vícios de andar com medo.
E enquanto eu me questionava se comprava uma casa ou vivia de aluguel, ela ria de si mesma ao fazer suas danças doidas e desengonçadas.
E juntas vivemos um isolamento e sobrevivemos ao homeschool.
Meu primeiro impulso é dizer que o tempo passa rápido.
Porém, me dou conta que o tempo pode ser aquilo que a gente quiser, de acordo coma atenção que damos a ele.
Tem o tempo do relógio e o tempo sentido.
E o fluir da vida que deixa tudo mais interessante.
Sinto que me falta tempo para aproveitar tudo que gostaria ao seu lado.
Sinto também que o tempo é justo e me permite viver essas experiências.
E a maternidade é viver de contradições, não é mesmo?
Olho essa foto e me dou conta.
Do privilégio que é respirar amor.