Isabel Arruda
Sobre comparações

No balcão do lado de dentro de um Starbucks, eu trabalhava - uma recém chegada imigrante.
Com o cabelo preso, a roupa preta e o avental verde, com meu nome escrito e um smiley, eu ficava a frente dos pedidos.
“Um vanilla latter, por favor?” Me pedia aquele batom vermelho.
“Tall mocha, half sweet”, me dizia aquele cabelo volumoso compondo perfeitamente com o look business casual.
“Caramel macchiato com uma dose extra de espresso”, bradava o salto 10 com um certo ar de quem já venceu na vida.
A comparação era constante. A cada vez que atendia uma delas, me comparava. A cada vez que perguntava: “do you want something for breakfast?” queria ser alguém que não era - alguém ali do outro lado. E a cada interação, eu diminuía.
A comparação é cruel e injusta porque é fruto da nossa imaginação fragilizada que busca uma imagem ilusória da perfeição no outro, fugindo da própria realidade de ser quem é. E enxerga a partir de suas limitações e percepções.
Na época do Starbucks não tinha inteligência ou maturidade emocional para me blindar da negatividade que brotava em meus pensamentos em forma de conversa interna.
E pensa comigo, quantas de nós não faz isso?
No grupo de whatsapp das mães, tem aquela mãe incrível que só cozinha orgânico, faz castelos de papelão e tira fotos dignas de Pinterest e você se culpa por gritar mais do que gostaria.
No trabalho, tem a co-worker incrível que é muito inteligente, apresenta projetos interessantes e é unanimidade entre todos no escritório e te faz pensar que você nunca será boa o suficiente.
No círculo de amizades, tem a amiga mais bonita que sempre chama atenção, é super extrovertida e tem a família típica de comercial de margarina, algo que você desconhece.
Por trás da superficialidade, existe uma realidade que desconhecemos.
Muitas vezes o que vemos, é uma realidade criada a partir de uma visão distorcida de uma necessidade nossa que não está sendo atendida.
A comparação é a raiz do autojulgamento. Eu me comparo, me diminuo e minha autoimagem fica ferida e assim o ciclo se retroalimenta.
E a cada comparação feita, um pedaço de nossa originalidade se vai. A autenticidade vira neblina.
E assim como um barco desgovernado e sem capitão , vamos navegando nesse mar revolto, tentando ancorar em um porto em busca de acalento.
Algo ou alguém para nos salvar.
Pois eu digo, coloque o colete salva-vidas e pula desse barco, antes que ele afunde e leve consigo a sua essência.
Pular requer coragem, assim como olhar pra si ao invés de olhar para o outro.
Salve sua alma.
Salve sua espontaneidade.
Salve sua naturalidade.
Se reconheça e se salve.