Isabel Arruda
Medos bobos e coragens absurdas

"Tenho medos bobos e coragens absurdas", Clarice Lispector nos fala. Outra frase que me identifico.
Não me acho corajosa. Ou ao menos, nunca me achei.
Sempre me defini mais como medrosa, acanhada ou retraída. Bravura, definitivamente, não entra nas minhas definições do ser.
Aliás, que definições são essas?!
Teimamos, em querer achar palavras para representar o que é irrepresentável.
Rótulos nascem de definições.
E acreditamos tanto, que vira nossa certeza, nossa marca pessoal.
“Quem se define, se limita”, todos já ouvimos essa frase.
E as definições são tortas, ao meu ver.
Somos muitas, dentro de uma só.
Eu sempre fui a meiguinha. A doce. A fofa.
Na escola, na família ou em lugares que frequentava quando criança.
E até gostava desses rótulos.
Mas o que essa mensagem, implicitamente, me dizia?
“Que a menina meiga não tem uma certa “agressividade”, talvez possamos dizer assertividade. Que não tem voz.
Que é melhor se esconder e continuar sendo fofa, do que emitir sua opinião, entrar em conflito e perder esse rótulo.”
E assim segui, me esquivando de conflitos e mantendo meu rótulo - de fofa - vivo.
Não me leve a mal, gosto de ser fofa e meiga. Mas também estou abrindo espaço para a bravura, força e a autenticidade, sem perder a doçura. Substituindo a voz de quem dizia, pela minha própria e ouvindo o que eu tenho a dizer.
Somos seres em construção, evoluindo a partir da experimentação e da vivência.
A rotulação impede esse processo de construção e crescimento.
Questionar é o primeiro passo, para um caminho de desconstrução.
Abra espaço e se permita.
*Foto do dia que embarcamos para o Canadá - um dos atos de bravura que marcam minha vida.